Overfishing - Sobrepesca: o que todo mundo deve saber

Apesar de todas as polêmicas e incertezas sobre a vida marinha, uma coisa é certa: a ideia de que a vastidão dos oceanos encerra uma quantidade fabulosa e inexaurível de pesca, naufragou definitivamente. Os recursos da vida nos oceanos são limitados e sujeitos à exaustão e colapso como revelam Ray Hilborn e Boris Worm neste importante livro.


Ray Hilborn, professor de Ciências da Pesca da Universidade de Washington acredita, como todo cientista sério, que o planeta caminha para um desastre se nada for feito, mas ficou espantado com uma notícia alarmista publicada com destaque na primeira página do The New York Times, em novembro de 2006. O artigo dizia que a vida marinha iria entrar emcolapso em 2048 por culpa do excesso de pesca. Como os peixes suprem perto de 25% da proteína consumida pela humanidade e como muito mais bocas para alimentar nas próximas cinco décadas, seria um desastre anunciado.

Uma semana antes, o ecólogo marinho Boris Worm e colegas da Universidade Dalhousie em Halifax, Canadá, haviam publicado paper na revista Science com a data apocalíptica marcada para 2048. Logo se descobriu que um jornalista havia pinçado um trecho isolado de um release da revista, sem ler o trabalho completo. Mesmo assim, a notícia foi republicada à exaustão na internet e em sites menos criteriosos.
Ray e Boris logo se encontraram num debate de televisão para esclarecer o mal entendido e se tornaram colaboradores. Os dois concluíram que havia muita desinformação sobre o assunto e que deveriam ser criados critérios e técnicas estatísticas mais precisas para avaliar a saúde da vida marinha. Sobrepesca: o que todo mundo deve saber, publicado no fim de 2012, é uma tentativa de diminuir a confusão na área, esclarecendo quais seriam os níveis perigosos de sobrepesca - aquela na qual a população de espécies cai abaixo do nível de reprodução e vai à extinção - e como gerenciar uma pesca sustentável.

A obra é didática, em linguagem simples, na forma popular de perguntas e respostas. Faz parte da coleção "O que todo mundo deve saber" da The Oxford University Press (o próximo título da série é sobre a legalização da Maconha). O texto evita polemizar e registra mais os consensos que as discordâncias. Mas não deixa de aprofundar detalhes técnicos do que seria a sobrepesca (overfishing) e como medi-la. Não é tarefa fácil, pois existem vários critérios, alguns deles contraditórios. O mais comum, e menos significativo, é quando a tonelagem pescada num ano é 10% menor que no ano anterior. Ray e Boris concordam que não é um bom critério. A safra de sardinhas no caribe, por exemplo, despencou radicalmente 87% desde 2005. No caso os pesqueiros não tiveram culpa: o aumento de 1,1 º C nas águas da região dizimou os estoques de plânctons, o alimento básico das sardinhas. 

Mesmo descontando essas causas climáticas e ecológicas, é difícil estabelecer marcas a partir das quais a pesca seria suspensa para dar fôlego de recuperação e repovoamento dos peixes. No caso europeu e americano existe fiscalização severa e efetiva, em portos e a bordo de navios pesqueiros. Mas no resto do mundo isso não existe. Na Ásia, um dos maiores pescadores e consumidores do planeta, os dados são pobres e não confiáveis. E como quase 20% da pesca mundial é considerada ilegal e não vigiada, a situação não é boa.

Dessa maneira fica inviável criar um programa mundial de qualificação da pesca que tenha um selo de sustentável, como existe na produção de madeira ou de carne do gado de corte. Mesmo assim, Hilborn é otimista e acha que as autoridades podem um dia definir critérios de pesca mais sustentáveis, até mesmo que aqueles aplicados à produção de alimentos pela agricultura e gado de corte. "Estou convencido de que a produção de alimentos do mar é mais sustentável que plantar milho em Iowa ou trigo no Kansas. Essas plantações causam perda de solo a cada ano. Em 200 anos não haverá mais solo produtivo nesses lugares. Isso é sustentável?" pergunta o cientista.

Ao contrário da produção de alimentos em terra e odesmatamento, que podem ser vigiadas por satélites com facilidade, a inspeção marítima e de rios é impossível diretamente.

Overfishing: What Everyone Needs to Know 
(Sobrepesca: o que todo mundo deve saber) 
Ray Hilborn e Ulrike Hilborn 
The Oxford University Press


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